No dia 30 de abril de 2024, o arquivo permanente da UFSM ficou completamente submerso devido às enchentes que acometeram o Rio Grande do Sul. O lago, que fica ao lado do prédio da Reitoria, transbordou e, por meio de uma rampa, a água conseguiu acessar o subsolo, onde se encontrava o arquivo permanente da Instituição. O arquivo continha 12 mil caixas de documentos históricos. O ocorrido precedeu o que viria a acontecer com mais de 100 arquivos e cerca de 238 mil caixas de documentos no estado.
Na Universidade, a resposta do Departamento de Arquivo Geral (DAG) foi rápida e, imediatamente, uma operação de resgate foi iniciada para a retirada desses materiais com a participação de professores, técnico-administrativos em educação, militares e alunos voluntários.
Logo no início do processo, já foi estabelecido contato com o Arquivo Nacional para entender como melhor proceder naquela situação, e também foram registradas todas as ações efetuadas no começo de um longo processo de recuperação. A partir dos registros, o DAG criou a Operação Recupera Arquivo UFSM, uma página com o propósito de divulgar ações e métodos empregados na recuperação dos documentos danificados. E, em conjunto com o Arquivo Nacional, efetuaram duas publicações: uma instrução de Ações Iniciais e um Guia Rápido para o Resgate de Acervos Danificados por Água, que também serviram como auxílio para as instituições da região que tiveram seus acervos atingidos.
Desde então, o trabalho de recuperação que está sendo feito na UFSM ganhou reconhecimento do Arquivo Nacional, e se tornou referência no Brasil. Foi assim que as ações do DAG ganharam visibilidade no país e diversos meios de comunicação nacionais e regionais vieram entender o que estava sendo feito para recuperar o acervo arquivístico. “Se tornar referência foi devido às pessoas e como agimos. Chocou muito a forma como foi feito. A gente agiu muito rápido e de forma correta. Eu digo assim, a gente seguiu os protocolos de resgate rapidamente e com muitos voluntários. As pessoas são muito conectadas e ajudam aqui na UFSM”, diz a arquivista do DAG Daiane Regina Segabinazzi Pradebon. O destaque na mídia foi um portal para mostrar a importância da preservação e recuperação dos acervos alagados. Com a evolução do trabalho, a UFSM transformou o desastre climático em inovação e criou o Espaço Transdoc.
Espaço Transdoc
O Transdoc é a primeira estrutura no Brasil dedicada à recuperação emergencial de grandes volumes documentais atingidos por enchentes. Ele atua como HUB transdisciplinar, reunindo especialistas de diversas áreas (Arquivologia, Química, Farmácia, Engenharias, Biologia e Tecnologia da Informação) e desenvolve pesquisas visando criar técnicas inovadoras de recuperação documental em larga escala. O Espaço TransDoc é vinculado a dois projetos – um de desenvolvimento institucional, chamado “Preservação do Patrimônio Documental: Estratégias para Recuperação do Acervo Arquivístico da UFSM atingido por inundação”, e outro de pesquisa, denominado “Desafios e Estratégias na Recuperação de Documentos Arquivísticos Danificados Pelas Enchentes Ocorridas no RS”.
O projeto de pesquisa é utilizado como meio de captação de recursos. E até o momento, são várias as fontes de financiamento: investimento institucional, Ministério da Educação, Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e Ministério da Gestão e Inovação via Arquivo Nacional. O projeto com a FINEP, por exemplo, permitiu a compra de parte dos recursos de materiais permanentes. A arquivista do DAG conta que os fomentos servem para aumentar o nível de pesquisa do laboratório: “A gente está para receber mais R$ 2 milhões da FINEP para equipamentos. Vamos receber scanners super potentes para digitalização. Aqueles do tipo planetário, para digitalizar plantas e mapas, porque recebemos todas as plantas das rodovias e pontes do estado para restaurar”. Inclusive, o programa segue na busca ativa por projetos e financiamentos para expandir cada vez mais a atuação. “Para a estrutura física, a gente vai tentar outros órgãos de fomento. Para conseguir um prédio, um local específico, não só para trabalhar nesse laboratório, mas também para estruturar o nosso acervo que agora não vai mais voltar para o mesmo lugar. Precisamos de um prédio também para nós”, relata Daiane.
Como o DAG não conta com um prédio próprio, os arquivos recuperados são alocados em lugares provisórios. A documentação recuperada está sendo armazenada no prédio 48-D, da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), e uma parte também vai para um pavilhão do DAG, no Centro de Eventos, do Parque Tecnológico, onde fica o acervo da Administração Superior. Além disso, o Espaço Multiuso é utilizado na rotina diária de trabalho do projeto.
O fluxo de trabalho do Departamento de Arquivo Geral se dá em seis etapas:
-
Retirada do acervo
-
Triagem e estabilização do acervo
-
Limpeza e higienização
-
Secagem
-
Digitalização
-
Novo acondicionamento
Comentários