O ‘mito’ do alinhamento planetário: entenda o fenômeno que está iluminando o céu


Os últimos dias, muito tem se falado sobre um suposto “alinhamento planetário envolvendo Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Embora o termo seja amplamente utilizado na mídia, ele não descreve exatamente o fenômeno observado.

“Quando ouvimos falar em alinhamento planetário, a ideia que vem à mente é a de todos os planetas enfileirados em linha reta no espaço, mas isso não é o que está acontecendo  de fato”, explica a astrônoma do Observatório Nacional, Dra. Josina Nascimento. “O que vemos da Terra é um ‘desfile’ de planetas, que parecem formar um arco no céu quando observados da Terra. Esse arco ocorre porque todos os planetas orbitam o Sol praticamente no mesmo plano, conhecido como plano da eclíptica.”

Imagem: Stellarium (divulgação)

Quando os planetas estão aparentemente próximos no céu e, de certa forma, “alinhados”, dizemos que estão em “conjunção”. Há vários tipos de conjunção, sendo a mais comum a conjunção em ascensão reta, uma das coordenadas do sistema de coordenadas equatorial, em Astronomia. Assim, em vez de “alinhamento”, o mais adequado seria falar sobre a visibilidade simultânea dos planetas no céu.

Esse “desfile” pode ser apreciado especialmente no início das noites de janeiro e fevereiro, logo após o pôr do sol. Contudo, como Urano e Netuno não são visíveis a olho nu, é necessário um telescópio (ou um bom binóculo no caso de Urano) para observar esses dois planetas mais distantes.

Onde e como observar

Neste mês de janeiro, é possível localizar os astros com certa facilidade no céu. Vamos olhar para o céu logo após o pôr do Sol. Vênus é o mais brilhante próximo ao horizonte oeste, enquanto Saturno também aparece nessa região. Saturno é muito menos brilhante que Vênus, mas é o ponto brilhante mais próximo de Vênus. Saturno está ficando cada vez mais baixo ao longo do mês. Já Júpiter, também muito brilhante, está bem alto no céu, próximo à Aldebaran, a estrela mais brilhante (alfa) da constelação do Touro. Marte, por sua vez, destaca-se por sua coloração avermelhada e está ao lado leste. Como Marte está em oposição, ele está nascendo próximo da hora do pôr do Sol ficando a noite inteira no céu..

“Em qualquer região do Brasil é possível observar os planetas visíveis a olho nu — Vênus, Júpiter, Saturno e Marte — sem necessidade de equipamentos especiais. Mesmo em locais com poluição luminosa, como grandes cidades, eles são brilhantes o suficiente para serem vistos”, destaca a astrônoma.

Com a chegada de fevereiro, Mercúrio vai começar a aparecer logo após o pôr do sol, mas observar este planeta é sempre muito difícil porque ele está muito próximo aparentemente do Sol. De qualquer forma, a partir do dia 21 de fevereiro, quem tiver o horizonte oeste desimpedido e tiver um céu limpo após o pôr do sol, pode conseguir ver Mercúrio. No dia 25, este planeta estará bem próximo (aparentemente) de Saturno, facilitando sua visibilidade.

No dia 28 de fevereiro, todos os planetas estarão “presentes” no céu, mas a observação será mais desafiadora.

“Saturno e Mercúrio estarão muito próximos (aparentemente) do Sol e praticamente invisíveis, pois se põem logo após o pôr do sol. Para vê-los, seria necessário estar em um local com horizonte oeste desimpedido e condições climáticas ideais”, explica a Dra. Josina.

Um fenômeno comum, mas fascinante

Apesar do entusiasmo que desperta, esse tipo de “alinhamento” não é raro. Como os planetas orbitam no mesmo plano, é comum que eles apareçam juntos no céu, ainda que em diferentes disposições.

Por exemplo, no dia 1° de setembro do ano de 2024 (ano passado), antes do Sol nascer estavam visíveis ao mesmo tempo no céu, Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. E também, de 12 a 20 de agosto deste ano, antes do Sol nascer teremos todos ao mesmo tempo visíveis no céu: Mercúrio, Vênus, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Especialmente no dia 12 de agosto, haverá uma conjunção entre os dois planetas mais brilhantes do céu: Vênus e Júpiter. Os dois planetas estarão muito próximos (aparentemente no céu) e esse fenômeno será espetacular. 

“O importante é aproveitar essas ocasiões para olhar para o céu e contemplar a beleza do cosmos. Observar os planetas é uma experiência que nos conecta diretamente à dinâmica do sistema solar”, conclui a astrônoma.

Em razão desse desfile planetário, o Observatório Nacional realizará uma transmissão ao vivo, neste sábado, dia 25/01, a partir das 19h. O objetivo é exibir o “desfile de planetas” e explicar o que vem sendo chamado erroneamente de “alinhamento dos planetas”. Além disso, serão mostradas imagens do raro Cometa C/2024 G3 (ATLAS). Clique aqui e saiba mais.

 

Fonte Observátorio Nacional